Resenha: A Menina que Não Acredita em Milagres – Wendy Wunder

janeiro 02 2017


Campbell está doente, o câncer havia se espalhado por todo seu corpo e já não havia mais nada a se fazer; a única coisa que poderia ajudá-la agora era um milagre… Mas há um problema, ela não acredita em milagres! A obra de hoje é um dos lançamentos de Janeiro da Editora Novo Conceito que traz uma história triste e bela ao mesmo tempo e que possuí uma capa encantadora. Confiram mais sobre A Menina que Não Acredita em Milagres da autora Wendy Wunder a seguir:

Campbell tem 17 anos.
Ela não acredita em Deus.
Muito menos em milagres.
Cam sabe que tem pouco tempo de vida, por isso quer viver intensamente e fazer tudo o que nunca fez, no tempo que lhe resta. Mas a mãe de Cam não aceita o fato de perder a filha, assim, ela a convence a fazer uma viagem com ela e a irmã para Promise um lugar conhecido por seus acontecimentos miraculosos.
Em Promise, Cam se depara com eventos inacreditáveis, e, também, com o primeiro amor. Lá encontra, finalmente, o que estava procurando mesmo sem saber.
Será que ela mudará de ideia em relação à probabilidade de milagres? 

A Menina que não Acredita em Milagres vai fazer você rir, chorar e repensar sua conduta de vida.


Avaliação: 4/5 estrelas

                O que fazer quando jovem você descobre que sua vida não será como a de outras pessoas? Quando a coisa que você mais conhece são hospitais, suas paredes brancas e tratamentos dos mais variados tipos existentes. O que fazer quando depois de tanta medicação, quimioterapia, radioterapia você deixou de ser a menina gordinha e saudável para se tornar a menina que veste manequim 32 e tem o cabelo curto? Para Campbell, ou Cam, só restou se conformar e aproveitar ao máximo o resto dos seus poucos dias.

                Campbell é uma garota que desde cedo lida com a perspectiva que não chegará aos 18 anos, que não poderá cursar uma faculdade no futuro e que jamais verá a sua irmã mais nova crescer.  Ela não tem fé nas pessoas e acredita que tudo tem uma explicação científica e perfeitamente lógica, o resto é só bobagem. Ela não acredita em Deus ou nos sentimentos verdadeiros, afinal as pessoas são inconstantes assim como a vida. Ela sabe como as coisas e as pessoas são, afinal, foi assim quando seus pais se separaram,  foi assim quando de repente ela perdeu o pai para as mãos da morte e foi assim quando veio a noticia do câncer!

Não que acreditasse em céu ou em um deus (especialmente um homem) ou em Adão e Eva, como metade dos otários que moravam na Flórida. Ela acreditava na evolução: peixes adquiriram pés, sapos adquiriram pulmões, lagartos adquiriram pelos e os macacos tinham de andar eretos para percorrer a savana. Fim da história.

                Então quando anos depois de tratamentos variados, de hospitais diferentes e de medicações infinitas, ela saiu de sua consulta no Children’s Hospital com a notícia que não havia mais nada a ser feito e que só um milagre poderia salvá-la ela não chorou ou se lamentou. Ela na verdade só desejava comer sem parar ou até fumar um cigarro, mas nada disso estava ao seu alcance no momento em seu carro, Cumulus. Ao contrário, ela achou algo que não via desde que tinha 12 anos e esteve em um acampamento com sua melhor – e única – amiga, Lilly; a Lista do Flamingo, uma lista que ela havia sido obrigada a escrever e que continham seus desejos se pudesse se dar ao luxo de ser uma adolescente normal.

                Com seu tempo cada vez mais curto, Cam decide que já é hora de dar uma ajudinha para o universo e começa a riscar alguns itens de sua lista, algo que era fácil e possível no momento, algo como roubar alguma coisa. Ao fazer isso ela pode se permitir sentir um pouco de alegria e animação; algo que não fazia parte de sua vida há muito tempo. No entanto, ela não esperava a reação de sua mãe, Alicia, que estava determinada a fazer algo para impedir que sua filhinha deixasse de existir antes dela.  E apesar de Cam saber que era inútil e que não queria mais experimentar nenhum tratamento, que só a fazia piorar cada vez mais, ela deixou que Alicia fosse atrás de algo para se sentir melhor diante da impotência de ver o câncer tirar sua vida lentamente.

Se você acreditava que os pensamentos eram energia e energia é matéria (E=mc²), e a matéria aparece, então uma pessoa nunca pode realmente deixar você, a menos que você pare de pensar nela.

Determinada a não desistir, sua mãe procurou todo o tipo de coisa, desde a xamãs até os tratamentos mais sofisticados; mas de nada adiantou. No entanto, quando parecia que não havia mais nada a se fazer, sua mãe ouviu sobre uma cidade mágica, capaz de proporcionar o milagre que ela tanto necessitava. Cam sabia que não existia nada de mágia nesse mundo, no entanto, a perspectiva de conhecer uma nova cidade e passar para ver sua amiga no caminho a incentivou a aceitar.

Deixando para trás toda sua vida e imaginando que provavelmente não voltaria mais para o que ela sempre chamou de casa, em Orlando, na Disney; ela, Alicia e Perry – sua irmã mais nova – partem em uma viagem com destino a Promise – isso se elas conseguissem encontra-la, uma vez que havia boatos de que assim como ela era mágica, ela também só se revelava para algumas pessoas. Ela só não esperava que fosse acabar brigando com Lily e que fosse tão fácil cumprir algumas coisas de sua lista, e que eram realmente ruins.

As ligações entre as pessoas eram temporárias. Egoístas. Oportunistas. Destinadas a perpetuar a espécie. “Amor”, o amor romântico, era apenas uma fantasia  que se permitiam porque, caso contrário, a vida seria chata demais para suportar.

Coincidência ou não, aos poucos, conforme vai passando mais tempo na cidade ela vai se sentindo melhor; as manchas em seu corpo passam a desaparecer sem explicação, seu apetite volta a possibilitando comer de tudo sem enjoar, e sua cor passa a voltar para o tom saudável de antes. Mas será isso realmente influência da cidade ou apenas algo cientificamente “explicado” como a melhora antes da morte? Será que Asher, um rapaz que ela conheceu ao chegar na cidade e que havia emprestado uma casa a sua família, poderia fazê-la mudar de ideia sobre a existência do amor? Seria possível realmente haver algo maior do que ela mesma?  Campbell não sabia, mas ela iria descobrir um pouco mais a cada dia em seu verão cheio de probabilidades em Promise!

As relações permanecem. Porque os pensamentos são energia, energia é matéria, e a matéria nunca desaparece.

A Menina que Não Acredita em Milagres, aborda assuntos bastante polêmicos e sérios. Misturando a descrença em qualquer coisa que não fora comprovada cientificamente, e uma doença tão cruel e desgastante, Cam vai mostrando a batalha diária de alguém obrigado a ver o corpo se entregar cada vez mais sem poder fazer nada. Ela não pode – ou não quer – acreditar em algo maior, uma vez que isso seria acreditar que alguém realmente a odeia lá em cima; além disso, ela não tem razões para crer em sentimentos descritos para crianças apenas com o intuito de fazê-las acreditar em coisas boas na vida – o que para ela não pode estar mais longe da verdade.

As vezes, por mais que tentemos entender jamais seremos capazes de compreender tudo o que uma pessoa que passa por isso realmente se sente. Ela é amada pela família e as ama, mas apenas encontra compreensão em sua amiga Lily cuja doença é igual a sua. Mais do que apenas uma obra, a autora quis que nós percebêssemos como lidamos com a vida de forma leviana e sem dar importância, enquanto existem pessoas que não se podem dar a esse luxo por não ter tempo.

Belo, devastador, reflexivo… são apenas alguns dos adjetivos que se encaixam nessa obra. Não espere finais felizes, não ache que as coisas irão se resolver como mágica, apenas se permita e se deixe envolver pela história e sua mensagem. A autora Wendy me ensinou diversas coisas durante essa obra, mas o mais importante foi que ela me ensinou a realmente viver! Mesmo que a vida não seja um conto de fadas…

Um beijo