Melancolia é um filme sobre o fim do mundo, mas não como costumamos ver na maioria que aborda esse tema, aqui não há batalhas, explosões, invasões e nem heróis que possam nos salvar. Tudo começa quando um planeta chamado Melancolia entra em rota de colisão com a Terra e nesse contexto que encontram-se as irmãs Claire (Charlotte Gainsbourg) e Justine (Kirsten Dunst). Dividido em duas partes, o longa dedica cada uma para uma irmã, mostrando como cada uma lida com o iminente fim do mundo.
A primeira parte mostra a festa de casamento de Justine, toda organizada minunciosamente pela irmã mais velha. Observamos o esforço para manter uma imagem a qual a família não tem e aos poucos as rachaduras começam a aparecer. O sentimento melancólico começa a aparecer pelas ações de Justine ao longo da sua própria festa, como se ela não quisesse estar ali. Os pais divorciados mostram uma dualidade, enquanto a mãe é uma figura mais rabugenta e cortante, o pai é mais amigável. E ao longo do filme o que mais aparece são dualidades.
A segunda parte parece tratar de outro filme. E a melancolia toma conta das cenas. Justine aparece em um profundo estado melancólico após o fracasso da festa e sua irmã cuida dela. Nessa parte todos os outros personagens já se despediram e o rebuliço da comemoração já passou. O foco é apenas em Justine, Claire e sua família (seu marido e seu filho). A ideia do fim do mundo fica mais clara para todos e ocorre uma inversão de sentimentos entre as personagens, como se uma entrasse na pele da outra.
A parte técnica é impecável, no início acompanhamos uma sequência de cenas em slow motion que resume o que acontecerá ao longo do filme. A trilha sonora é um ponto forte, auxiliando e intensificando ainda mais a atmosfera melancólica. A fotografia esplendida de Manuel Alberto Claro em conjunto com os efeitos visuais de Peter Hjorth tornam o filme visualmente espetacular. Lars von Trier mais uma vez exerce uma direção sem defeitos com sua câmera que nos transporta para dentro da tela em conjunto com o seu roteiro único e filosófico.
As atuações são outro fator que merece destaque, todas são maravilhosas, desde Charlotte Rampling (a mãe seca e pouco amorosa), Kiefer Sutherland (o marido que quer convencer a sua esposa que o mundo não acabará) e Charlotte Gainsbourg (a irmã sempre racional e responsável que vê o mundo desmoronar na sua frente). Mas o destaque vai para Kirsten Dunst (vencedora da Palma de Ouro do Festival de Cannes) que apresenta uma atuação espetacular, pode-se dizer até a melhor da sua carreira, como a depressiva e melancólica Justine.
Melancolia mostra acima da tudo a condição humana perante situações extremas. Um filme único que aborda múltiplos sentimentos do ser humano (apesar da sua visão pessimista). As duas irmãs mostram a dualidade do ser humano e como esse pode mudar diante de uma situação em que não há escapatória. Porém, mesmo mostrando visões opostas de pessoas diferentes, o longa metragem mostra que algo une os dois lados, no caso do filme, o que une as duas irmãs é a dor.
Até a próxima,
Meirelles