Resenha: (Des)nu(do) – Thássio G. Ferreira

maio 13 2017

                Vocês costumam apreciar poesia?  Aquelas escritas de forma intensa e profunda, que retrata os sentimentos mais profundos e se embrenham devagar e lentamente até te envolverem por completo? Costuma-se dizer que os poetas são aqueles que estão em uma eterna busca pelo impulso lírico, que não tem vergonha de se desnudar através de palavras sobre aquele que se predispõe a ler e sentir na pele tudo aquilo que está ali presente. A verdade é que a poesia pode ser encontrada nas mais diversas formas e lugares; pode ser através de uma fotografia que captura um momento repleto de sentimento e paixão, ou talvez através de um livro cujo autor não se ressinta de se mostrar de forma transparente, e até mesmo naquela música que toca o coração te mostrando o que você mesmo desconhecia. (Des)Nu(Do), obra de estreia do autor Thássio G. Ferreira, está repleto de mais de 50 poemas onde o autor irá se despir, desnudando ao leitor tudo aquilo que possui dentro de si. Confiram mais detalhes a seguir:


Despido de si, o uno é sempre um outro, de maneira que somente a poesia possa deflagrar tal dinâmica de alteração e pró-criação do existente. A razão entra, sim, no cuidado de revelar a própria emoção poética, sem que a aniquile quando consumada na forma-poema. Dessa consciência, Thássio G. Ferreira se vale: maneja ferramentas sonoras, rímicas, rítmicas. Entre aliterações e assonâncias, não joga as palavras, nem somente joga com elas. O poeta se joga, sim, à palavra como quem “se entrega ao sol do mundo”. Prefácio de Igor Fagundes.

Avaliação: 4/5 estrelas



Ando em equilíbrio precário,

segundo minha analista;

e em exilio de mim mesmo,

segundo minha própria poesia.

                Como a poesia se revela a você? Muitas vezes o momento em que estamos é capaz de nos influenciar na forma como palavras são levadas até nós. Por se tratar de textos onde a subjetividade influencia diretamente no que iremos absorver de seus versos, a época lida, os sentimentos que temos no momento irá definir como nos sentiremos e como associaremos as palavras derramadas no papel para nós e nossa vida.

Em (Des)Nu(Do), 50 poemas são trazidos até nós versando acerca dos mais diversos temas do dia a dia. Sem preocupações com rimas e composto em sua maioria por versos livres, Thássio utiliza-se de metáforas, descrições, comparações e diversas outras figuras de linguagem para transmitir ao leitor a mensagem que deseja com cada poema onde ele não teme ficar nu ao se despir e apresentar o que tem em si.

Dizem que o destino

se ri das probabilidades.

Eu, que, de fato,

não creio em fado,

acredito que o acaso

se ri mais ainda

das impossibilidades.

               Misturando versos que tratam sobre amor, solidão, sobre se perder e reencontrar, sobre entrega, saudade e sobre a dificuldade existente em viver nesse mundo contemporâneo e difícil que é o nosso. Dividido em três partes, iremos passar por momentos em que o poeta se revela ao leitor, sendo seguido por onde ele irá apresentar acerca da poesia, e por último irá versar acerca do tempo e do silêncio; sendo capaz de transformar e interligar tudo como se fosse parte de algo único.

                Sua poesia não segue padrões ou estilos; variando de poemas que seguem o simples, se aproximando de ser quase singelos demais, até os mais complexos e rebuscados capazes de tocar o leitor de forma profunda como a quem acerta com maestria uma parte profunda da alma do leitor que até então se desconhecia a existência.

A vida talvez

nada mais seja

que sucessão

desordenada

de sensações

e sentimentos

(despetalamento…)

                Thássio G. Ferreira é um poeta sensível formado por caos e mansidão, onde ele mostra através de seus versos toda a sensibilidade existente em uma alma que já viveu e sentiu bastante a ponto de saber transmitir essas coisas através de palavras escritas em uma folha de papel. Ele não se ressente de versar sobre sentimentos bons ou dolorosos, que muitas vezes fugimos ou não queremos lidar; mas ele não se exime e se despe sem medo de ficar nu ao expressar aquilo que traz dentro de si ao expressa-los através da poesia.

                (Des)Nu(Do) foi o meu primeiro contato com o autor, e preciso dizer que para sua obra de estreia ele soube conduzir e transmitir de forma única e majestosamente aquilo que desejava ao cria-la. É impossível ao leitor se sentir inerte diante de tamanha vastidão de sentimentos e revelações. Através de frases curtas e simples, ele foi capaz de me fazer refletir mais do que em diversas outras obras muito maiores e complexas.

                Por não se tratar de uma obra com um numero elevado de paginas, e nem textos grandes e elaborados, sua leitura pode ser realiza de forma rápida e seguida ou apreciada mais lentamente se permitindo sentir cada verso da forma mais profunda existente. É ideal quando se busca companhia e ainda melhor para se deixar surpreender no dia a dia com que ele tem a dizer. Feito com esmero, carregados de harmonia,  e com trechos de Clarice Lispector e Manuel Bandeira, (Des)Nu(Do)  é uma obra que os fãs e apreciadores da boa poesia irão amar e se sentir despidos através do desnudar do autor.

                Um beijo