Resenha: Mais do que Isso – Patrick Ness

maio 09 2017

Quando um dos maiores escritores da atualidade, John Green, diz que ao ler essa obra a única coisa que conseguia pensar era “Meu Deus” já era de se imaginar que se encontrasse um enredo intrigante, diferente e cheio de reviravoltas. No entanto, preciso confessar que não me imaginaria tão perdida e acreditando saber cada vez menos ao saber cada vez mais. Confuso? Um pouco, mas ao se tratar da mais nova obra do autor -, o mesmo de sete minutos após a meia noiteMais do que Isso publicado pela Editora Novo Conceito em Abrilvocê irá aprender que esse é um sentimento que se mostrará constante durante sua leitura. Esse livro é uma obra tão complexa que acaba por levar o leitor a uma situação pôs apocalíptico, ao mesmo tempo em que suas tendências de ficção científica fazem refletir até que ponto o que essa história apresenta poderia ser parte de nossa realidade. Até que ponto uma sociedade e pessoas podem ser danificados restando como única solução fugir de tudo? Seth acreditava não existir mais nada pra ele, mas será que realmente não há nada após a morte? Confiram mais detalhes dessa obra que irá mexer com sua cabeça a seguir:



Um garoto se afoga, desesperado e sozinho em seus momentos finais. E morre. Então ele acorda. Nu, ferido e com muita sede, mas vivo. Como pode ser? Que lugar é este, tão estranho e deserto? Enquanto se esforça para compreender a lógica de seu pior pesadelo, o garoto ousa ter esperança. Poderia isto não ser o fim? Poderia haver mais desta vida, ou quem sabe da outra vida?


Avaliação: 3,5 estrelas

O que leva alguém a chegar ao ponto de desistir de viver e ver na morte a única solução? Seth , um jovem de dezessete anos, decidiu que não queria mais permanecer ali naquele lugar. Juntando suas coisas e deixando tudo bem arrumado próximo a um rio nos Estados Unidos, ele segue em direção a ele e ao fim de tudo. Em uma das épocas mais frias do ano, todo mundo sabe que nadar é uma loucura que poderá resultar apenas em uma coisa: a morte. Enquanto todos queriam evitar o que as profundezas das águas trazem, Seth vê nele sua única escolha e salvação. E é enquanto ele se afoga, nos minutos que antecedem o fim que nós somos apresentados a ele. Como se estivéssemos lá desde um primeiro momento, somos inseridos em uma cena repleta de tensão e sofrimento, onde por mais que tenha sido o que ele havia desejado vemos seu corpo lutando contra o resultado iminente. Sendo arremessado contra as rochas ele sente cada parte sua quebrar ao ser atirado contra as rochas, muita dor o acompanha até que sua cabeça encontra o mesmo destino que suas costelas, onde comuna pancada o mundo todo torna-se escuro encerrando tudo pra sempre… Ou não. 

O impacto é bem atrás de sua orelha esquerda. Fratura o crânio, rachando-o ao meio até o cérebro, a força do impacto também esmagando a terceira e quarta vértebras, danificando a artéria cerebral e a coluna vertebral, um ferimento sem volta, sem recuperação. Sem chance. Ele morre.

Apesar de não ter dúvida do que ele queria fazer, em seus momentos finais ele passa a se questionar o que vira depois que ele se for desse mundo. E quanto a morte se aproxima, certa e certeira, ele clama, de forma silenciosa, por ajuda. O que ele não imaginaria era que seu pedido fosse realizado, até que ele é. Seth acorda quando na verdade deveria estar morto. Completamente desorientado e com uma sede que ameaça sua sanidade, ele não faz ideia de onde está. A única coisa que ele sabe é que está nu e machucado, repleto de bandagens metálicas espalhadas pelo corpo, e em uma calçada de uma casa que ele não se recorda de já ter estado antes. 

Ao seu redor camadas de poeira e lama se espalham. Também não há nenhum sinal de habitação por ali, o que o faz se questionar se aquele é algum lugar de punição como o inferno. A casa, dona da calçada na qual acordou, parece o atrair de uma forma que ele não consegue explicar. Se vendo em uma cidade que parece ter sido abandonada e com seu corpo requisitando certos cuidado, ele não vê muitas alternativas para si. Então ele se rende e entra na casa. Infelizmente lá também não há ninguém, apenas móveis velhos e abandonados, assim como do lado de fora ele está completamente sozinho.

Por um momento, porém, ele nem liga. Apenas fecha os olhos contra o sol e absorve tudo. Ele não está nu, não está envolto em bandagens sujas e não está completamente nojento de poeira. Está vestindo roupas limpas, sapatos novos e, pela primeira vez desde que morreu, sente-se quase humano.

Precisando encontrar alimentos e em busca de alguém que possa ajudá-lo a entender o que está acontecendo. Mas explorando o bairro ele só encontra aquilo que ele já sabe, mais lugares abandonados e nenhuma presença por ali. No entanto, com o passar do tempo e no meio de suas buscas ele irá descobrir que as coisas ao seu redor não são tão desconhecidas assim. De volta ao cenário de mais dor e sofrimento de sua vida, ele terá que aprender a lidar com as boas e más lembranças que possui… Agora mais do que nunca ele sabe que aquilo ali é o inferno, um lugar dedicado a fazê-lo sofrer por ter se suicidado. Ele morreu, ele lembra claramente de cada momento de sua morte e de seus ossos quebrando; apesar de não entender o que o levou até ali existe apenas uma coisa da qual ele não tem dúvidas: ele está morto. Mas então como ele está ali? 

Se essa é apenas uma velha lembrança empoeirada na qual ele está preso, talvez não seja nem mesmo um lugar, talvez seja apenas o que acontece quando seus minutos finais de morte passam a ser uma eternidade.

Quando as esperanças decidem abandoná-lo e a situação se torna pesada demais ele só pensa em acabar com tudo independente das consequências. Mas antes que ele possa completar seu ato, um novo fato resolve acontecer. Ao contrário do que parecia, e do que ele achava, ele não está sozinho. E existe bem mais do que isso ainda a ser descoberto, mas será que ele conseguirá descobrir tudo que envolve esse lugar? Às vezes a realidade é algo relativo e o que é real ou não está apenas em nossa mente… 

Talvez comparado a como mundo real estava indo, ele fosse o paraíso. Talvez tudo que quiséssemos fosse viver a vida real de novo, sem tudo desmoronar o tempo todo.

Confesso que demorei muito tempo para me envolver na história e ao terminar a leitura nem sei se posso dizer que isso aconteceu. Dividido em 4 partes, a todo momento somos levados por duas linhas temporais: o presente e o passado de Seth. Narrado em terceira pessoa a visão apresentada ao leitor é uma que apesar de possibilitar uma maior compreensão, não ajuda muito diante de questionamentos constantes cujas respostas não estão presentes. Desde o início não sabemos o que levou Seth, um jovem aparentemente saudável, a cometer suicídio. Também não sabemos o que está acontecendo nesse novo lugar onde ele está e se realmente se trata do inferno. A verdade é que o leitor desconhece tudo que está acontecendo e só chega a saber um pouco desse universo ao final da leitura, ainda ficando algumas questões não resolvidas… 

Em uma trama repleta de reflexões profundas que remetem a uma questão complicada acerca do poder de destruição de uma sociedade, o autor Patrick Ness leva o leitor de forma continua e gradual a refletir sobre suas próprias falhas e sobre o que realmente existe a sua volta. O enredo é tão complexo e interligado a cada pequeno detalhe que é impossível alcançar uma compreensão se sua leitura não é feita de forma cuidadosa e atenciosa.

Mais do que Isso foi meu primeiro contato com a escrita do autor e apesar dele ter uma fluidez e desenvoltura, infelizmente não foi capaz de me cativar tanto quanto gostaria. Por diversas vezes me vi perdida e totalmente desconexa da história que estava ali na minha frente. Acredito que por ser uma obra que tem um toque de ficção científica e mundo pôs apocalíptico, onde o autor não impõe sua visão ou ideia, mas sim permite ao leitor tirar suas próprias conclusões, fez com que eu não tivesse realmente uma conexão com a história. Ainda sim é um livro que eu recomendo aqueles que gostam de histórias que trazem esses elementos em sua composição.

Essa é uma leitura que deve ser feita de forma lenta e apreciada nos mínimos detalhes. É uma obra onde todo detalhe importa e influência no que vem a seguir. É um livro que mexe com sua cabeça a ponto de você duvidar sobre o que é realidade e o que não é. E é o tipo de obra que tem aquele “quê” de diferente das diversas histórias encontradas por aí. Leia e deixe-se levar, aprecie, afinal é impossível saber como Mais do que isso irá se apresentar para você; mesmo não sendo uma de minhas preferidas não tenho como falar que não se trata excelente trabalho de Patrick Ness, onde ele se propõe a ensinar a todos nós que existe bem mais do que isso que estamos acostumados! 

Um beijo