Com uma temática que foge do usual, Entrelace escrito por Diana Scarpine é uma obra que surpreende e agrada com uma escrita bem desenvolvida e personagens reais. Falando sobre amor e preconceito somos convidados a acompanhar uma obra que é uma verdadeira lição de vida e um ensinamento sobre as verdadeiras dificuldades de alguém com deficiência… Emocionante, sentimental, esse é um livro que te fará sentir muitas coisas durante sua leitura! Prepare-se para amar e odiar esses personagens que pouco a pouco nós cativam através de seus relatos de vida em uma obra que é impossível de não se emocionar, confiram:
Carol é uma mulher insegura e preconceituosa, que tem um relacionamento virtual com Henri, um homem forte e independente, que enfrenta as adversidades que a vida lhe impõe. Aparentemente apaixonados, embora nunca tenham se visto pessoalmente, eles anseiam transpor o namoro virtual para o real, mas o tão sonhado primeiro encontro não acontece como planejaram e eles rompem o relacionamento. Por mais que tentem se manter afastados, os destinos de Henri e Carol foram irremediavelmente entrelaçados e seus corações, unidos pelo amor, mas implacavelmente afastados pelo preconceito. O amor será capaz de vencer esse profundo e intenso embate contra o preconceito? Ou o preconceito será capaz de subjugar o amor presente no coração de uma mulher?
Informações técnicas:
Obra: Entrelace Autor(a): Diana Scarpine Páginas: 485 Ano de Lançamento: 2017 Cortesia: Autora Avaliação: 4/5 estrelas Onde comprar: Amazon
“E esta situação tornava-se cada vez mais incômoda e dolorosa para mim. Amor e rejeição não podiam caminhar juntos. Pelo menos, na minha opinião não.“
Quando há mais de 20 anos Henri sofreu um acidente que veio a deixá-lo tetraplégico, foi necessário que ele aprendesse a superar os obstáculos e sua condição; com muito esforço ele foi capaz de criar uma autoestima e confiança, o levando a finalmente se permitir ter um relacionamento. Dedicando-se ao estudo científico e trabalhando em hospitais, ele se vê prestes a mudar a sua vida para que possa se encontrar com sua amada que ele só conhece pelo computador.
Mantendo um namoro virtual há dois anos com Ana Carolina, e tendo a conhecido pela internet, ambos nunca se viram pessoalmente e ele teme a reação que ela possa ter diante de sua condição agora que se encontra prestes a sair de sua casa em São Paulo e voltar para Jequie na Bahia, onde ela e sua família residem. Com medo que seus sentimentos não se mostrem tão sinceros quanto ela diz, Henri adia ao máximo seu encontro com Carol temendo o que pode ocorrer quando ela o ver pela primeira vez frente a sua deficiência. Provando-se certo os seus temores, ele se vê sendo humilhado por aquela que vivia a dizer que o amava ao acusa-lo de enganá-la – mesmo que ele já houvesse contado há muito tempo sobre seu acidente – e cerca-lo de palavras de ódio.
“Peço, todavia, que não tente mais me machucar seja psicológica ou fisicamente, pois eu já sofri bastante em minha vida e a deficiência não me faz menos humano do que as outras pessoas. Eu tenho sentimentos, como qualquer um, como você, e não quero voltar a sentir a dor física e psicológica que senti hoje.“
Extremamente preconceituosa, Ana Carolina, se mostra incapaz de manter uma relação com alguém que considera incompleto… Henri, por sua vez, prefere ficar sozinho mesmo a amando à ter que lidar com seus ataques cheios de ódio e carregado de preconceitos. Tendo que encarar os fatos da vida real e vendo suas vidas insistir em se entrelaçar uma à outra, ambos terão que aprender a conviver até que ele possa voltar para o lugar de onde nunca deveria ter saído – sua casa.
Com palavras feitas para machucar, Carol acaba o magoando cada vez mais ao mesmo tempo em que parece incapaz de se manter afastada dele. Através de atitudes confusas e muita química, iremos acompanhar a trajetória desse casal que teve seu fim antes mesmo de começar… Afinal, quando amor e ódio passam a conviver juntos, quem será o grande vencedor? Haverá esperança para um final feliz quando o preconceito parece cegar tudo?
“A lição que aprendi com Henri não era exclusiva para que têm deficiência. Era para mim e para qualquer pessoa também. A diferença, seja ela qual for, não é uma aberração. É apenas uma forma mais perceptível de demonstrar que, na verdade, a regra, a normalidade, é a diferença, e não o padrão, pois ninguém é igual.“
Entrelace – Caminhos que se cruzam ao acaso é um livro que surpreende o leitor ao fazê-lo lidar com uma profundidade incomum através de uma história repleta de sentimento e lições de vida. Com um tamanho que chega a assustar em um primeiro momento, essa é uma obra complexa e completa que transborda sentimentos a cada página e retrata um tema poucas vezes presente na nossa literatura: a deficiência física. Muito bem escrito, essa é uma leitura que ocorre de forma rápida através de uma narrativa fluida e envolvente desde sua primeira página e que proporciona momentos de puro prazer e reflexões. Podendo ser considerada até inovadora, essa é uma obra que se destaca em meio a outras tão iguais e sem inovações.
Carol é uma protagonista que começamos odiando por seu pensamento fraco e mesquinhez exagerada. Seu forte preconceito, sua forma de ver e lidar com a vida, sua maneira de ser, é algo que vai criando uma sensação de repulsa e nos fazendo desgostar cada vez mais conforme vamos a conhecendo e suas atitudes no decorrer da história. No entanto, apesar dela se mostrar alguém desagradável, sua presença é importante para demonstrar a forma como o preconceito está inserido em uma sociedade egoísta e obscura, onde se rejeita aquilo que não se encaixa em padrões desejados ou esperados do outro. Felizmente ela é uma personagem que consegue se redimir e ensinar ao leitor importantes questões que de outra forma não apresentariam tanta força e até poderia acabar por se tornar algo falso. Intensa e complicada, Carol, é a típica personagem que odiamos e ao mesmo tempo não conseguimos não gostar. Sua personagem em si é alguém que conseguimos gostar, mas sua personalidade – ainda que muito bem construída – nos afasta conforme sua idiotice vai se manifestando de forma intensa e constante. Ela é aquela mulher real, cheia de dúvidas e conflitos, que provoca no leitor os mais variados sentimentos ao se ver frente à frente com alguém tão complexa e difícil, mas que condiz com a nossa realidade.
Henri, por outro lado, é um personagem que cativa nossos corações quando se mostra forte e determinado diante as dificuldades da vida e o preconceito sofrido diariamente – até por aqueles que mais ama. Tetraplégico ele aprendeu depois de longos anos de dificuldades a se aceitar e a lidar com sua nova forma de passar pela vida, onde mesmo com dificuldades o possibilitam de ter uma vida normal e independente; algo que poucos entendem por mais que ele viva a explicar. Sua personalidade e qualidades é algo que salta aos olhos do leitor que se depara com alguém extremamente feliz e mais belo do que muitos, mesmo não se encaixando em “padrões” pre-estabelecidos. Possuidor de uma beleza diferente e sem jamais se menosprezar diante sua deficiência, ele é um personagem que se mostra alguém fantástico é um exemplo para muitos que julgam ou se consideram inferiores por serem diferentes. Ao não se deixar culpar diante do preconceito daquela que ama, ele mostra uma força, uma determinação, um amor próprio sobre si que não se deixa receber menos do que o merecido mesmo que isso signifique não ter aquela que ama… A todo momento há um lembrete que não há nada de errado com o Henri, o errado é o preconceito existente dentro de cada um, algo que por mais que muitos conheçam, poucos exercem!
Narrado através de ponto de vista intercalado entre os dois protagonistas, somos capazes de acompanhar um romance repleto de química entre o casal, mas que está longe de ser fácil ou perfeito ao retratar os muitos obstáculos presentes nessa relação por causa de questões relacionados a cultura preconceituosa em que estamos inseridos. Diferentes na forma de ser, Henri e Carol mostram diferentes facetas e ensinam importantes lições sobre como mudar esses pensamentos já tão ultrapassados diante de tantas mudanças nas facetas da vida. Seus personagens secundários estão o tempo todo presente na obra, ainda que de forma indireta, para realçar essas atitudes e mostrar um contexto completo e amplo de como as coisas funcionam. Longe der ser algo belo, Diana Scarpine é capaz de oferecer um romance avassalador que reflete as partes feias e escuras de um ser humano, assim como a parte mais bonita e sincera do sentimento que move tudo: o amor.
Disponível apenas na versão digital (e-book), esse é um livro muito bem revisado e que permite o ajuste da fonte para a que for mais confortável para você. Com uma diagramação rica em detalhes, ela em nada deixa a desejar em relação aos físicos. Sua capa apesar de simples, é possuidora de uma beleza que encanta e atrai além de se relacionar de forma ideal a sua história. Muito bem dividido, em nenhum momento o leitor se vê perdido nas trocas de narrações e na linearidade da obra; seguindo um caminho continuo e apresentando uma linguagem fácil e acessível, Entrelaces, é uma obra indicada para todos além de ser um grande aprendizado de vida!
Muito bem construído e elaborado, essa é uma obra que poucas vezes se vê perdida em seu enredo. Apresentando uma linguagem concisa e envolvente, Diana dá vida a uma história com páginas que fluem de forma natural tornando sua leitura algo fácil e agradável. Apesar de ser uma história de tamanho considerável, seu número de páginas acabam por serem quase desconsideradas diante de um grande talento e uma abordagem feita com maestria.
Brutal, Entrelace é um romance que gira em torno do preconceito e seu poder de destruição. Intenso, sentimental, essa é uma obra que se mostra diferente ao trazer como narrador uma personagem que fala e demonstra todo seu preconceito infundado e que muitas vezes sabe ser errado, mas não consegue mudar. É algo que acaba por ser algo extremamente doloroso e triste de se acompanhar, ao mesmo tempo em que fascina por se tratar de algo poucas – ou até raríssimas – vezes já vistas na literatura. Diana, através de sua escrita, realiza uma crítica social forte a falta de inclusão aos deficientes no dia-a-dia e as dificuldades em se viver em um lugar tão pouco pensado para quem a possui. Surpreendente, essa é uma obra que muitos iniciam seu contato sem sequer saber do que se trata e acabam por se encantar com o quanto ela é capaz de oferecer muito mais do que o esperado!
Provando o talento que a literatura nacional possui, esse livro veio para quebrar paradigmas e abrir os olhos de quem insiste em fingir não enxergar questões absolutamente necessárias. Com um drama agregado de romance na medida certa, essa obra é mais do que recomendada! Leiam, e se permitam descobrir o quanto a vida de alguém pode estar entrelaçada a de outro em uma história que agrega tudo que há de melhor nesse universo.
Um beijo