Caixa de Pássaros publicado em 2015 foi um sucesso ao conquistar milhares de fãs através da escrita de Josh Malerman; sua narrativa diferente e de um thriller psicológico de abalar surpreendeu e encantou a vários leitores que se viram presos a uma história de tirar o folego a cada página. Dois anos depois a Editora Intrínseca vem trazendo uma nova obra do autor que apesar de apresentar suas características, pode ser considerada totalmente inovadora. Voltando a brincar com os sentidos, dessa vez o leitor é convidado a descobrir a origem de um som misterioso capaz de inutilizar até as mais poderosas armas. Piano Vermelho é uma obra que mistura suspense e terror na medida certa para te fazer enxergar de uma forma completamente nova algo que é tão comum para nós: a música e seus sons. Misterioso e regado do toque que só Josh sabe dar a suas obras, esse é um livro que irá conquistar a muitos, mas que em quase nada se assemelha a sua publicação de estreia. Eletrizante e confuso, essa é uma obra feita para abalar concepções daqueles que a leem. Você está preparado para se imaginar em um mundo onde escutar pode ser perigoso?
Ex-ícones da cena musical de Detroit, os Danes estão mergulhados no ostracismo. Sem emplacar nenhum novo hit, eles trabalham trancados em estúdio produzindo outras bandas, enchendo a cara e se dedicando com reverência à criação — ou, no caso, à ausência dela. Uma rotina interrompida pela visita de um funcionário misterioso do governo dos Estados Unidos, com um convite mais misterioso ainda: uma viagem a um deserto na África para investigar a origem de um som desconhecido que carrega em suas ondas um enorme poder de destruição.
Liderados pelo pianista Philip Tonka, os Danes se juntam a um pelotão insólito em uma jornada pelas entranhas mortais do deserto. A viagem, assustadora e cheia de enigmas, leva Tonka para o centro de uma intrincada conspiração.
Seis meses depois, em um hospital, a enfermeira Ellen cuida de um paciente que se recupera de um acidente quase fatal. Sobreviver depois de tantas lesões parecia impossível, mas o homem resistiu. As circunstâncias do ocorrido ainda não foram esclarecidas e organismo dele está se curando em uma velocidade inexplicável. O paciente é Philip Tonka, e os meses que o separam do deserto e tudo o que lá aconteceu de nada serviram para dissipar seu medo e sua agonia.
Onde foram parar seus companheiros? O que é verdade e o que é mentira? Ele precisa escapar para descobrir.
Com uma narrativa tensa e surpreendente, Josh Malerman combina em Piano Vermelho o comum e o inusitado numa escalada de acontecimentos que se desdobra nas mais improváveis direções sem jamais deixar de proporcionar aquilo pelo qual o leitor mais espera: o medo.
Informações técnicas:
Obra: Piano Vermelho Autor(a): Josh Marleman Páginas: 32o Ano de Lançamento: 2017 Cortesia: –Editora: Intrínseca Avaliação: 4/5 estrelas Onde comprar: Amazon / Saraiva
“– Há coisas piores do que inventarem uma nova arma – diz Duane, terminando o drinque.
– Como o quê?– Como o tipo de pessoa que a criou.”
Philip Tonka é um jovem que aos trinta anos ama viver sua vida ao extremo ao lado de seus amigos com quem serviu na Segunda Guerra Mundial. Pianista, ele é um dos membros do The Danes, uma banda que possui junto a eles e que se tornou um grande sucesso após o lançamento do single “Be Here”. Juntos, os quatro: Philip, Ross, Duane e Larry, passam os dias curtindo e aproveitando ao máximo aquilo a que tem direito agora que seus dias servindo ao exercito chegaram ao fim. Apesar de o título de soldados garantirem a eles um bom status e o ajudarem a promoverem a banda, nenhum deles tem saudade ou gostam de reviver aqueles momentos que passaram na guerra, e esperam não ter que passar por isso novamente. No entanto, quando Jonathan Mull vem ao encontro deles com uma proposta estranha e inusitada novamente eles veem suas vidas serem transformadas novamente pelo exercito.
Um som estranho vem deixando os militares em alerta, emitido no deserto de Namibe, na África, eles não conseguem encontrar sua origem e temem pelo que ele pode significar, uma vez que apenas o contato com ele é capaz de inativar até as maiores armas já conhecidas pelo mundo; além de causar um terrível mal estar a quem o escuta. A Banda que já não se sentia nada propensa a aceitar a missão e voltar a seus dias como soldados, só se torna ainda mais forte ao terem contato com um pequeno trecho do som que eles deveriam tentar encontrar caso aceitassem. No entanto, o senso de aventura dentro deles somado a oferta de cem mil dólares para cada um faz com que eles aceitem a proposta, mesmo com todo o mal estar que isso significa aos seus corpos – tanto pelo som quanto pelas lembranças de uma época que eles prefeririam esquecer – e embarquem partindo a procura daquilo que eles como músicos conhecem como uma parte de si: o som e suas notas.
“Eu não faria isso se fosse você.”
No entanto, quando seis meses após a missão, Philip acorda de um coma em um hospital desconhecido com seu corpo repleto de fraturas em todos os ossos de seu corpo, ele não sabe o que pensar. Mesmo sem saber o que está acontecendo e nem onde estão os outros membros de sua banda, uma coisa permanece nítida em sua memoria: o que eles encontraram no deserto. Se recusando a falar sobre o que aconteceu e com um nítido terror apenas pela lembrança do que passou, o leitor se verá repleto de perguntas e totalmente inserido em uma trama complexa e composta por mistério e terror. Tudo é motivo para questionamentos, mas assim como Philip, nós encontramos sem entender nada a um primeiro momento; afinal o que poderia ter causado ferimentos tão sérios que nem mesmo a ciência consegue explicar? Durante 320 páginas iremos descobrir mais sobre um universo que jamais cogitaríamos existir, assim como o grande mal que pode advir de um mero som.
“(…) que aconteceu, soldado Tonka? — Ele se curva, põe as mãos nos joelhos, e baixa os olhos azuis na altura dos de Philip. — O que você e os Danes encontraram no deserto? Ou melhor (…) – A pergunta não é o que você encontrou… mas o que encontrou você.”
Piano vermelho é a mais nova aposta da Editora Intrínseca e já se mostra uma escolha acertada ao trazer um enredo que mistura suspense e mistério de forma a deixar o leitor com o coração saltando da boca. Com uma pegada completamente diferente de Caixa de Pássaros, apesar de suas notáveis semelhanças, esse é um livro que leva o leitor a acompanhar um enredo que mistura terror e suspense ao imaginar qual o grande mal que pode advir de um som. As duas histórias do autor Josh Malerman irão lidar com a questão da audição, mas enquanto em uma ela é a única chance de sobreviver, no outro ele é capaz de levar até a morte. Afinal quanta dor e destruição podem ser causadas por um som? Seria possível haver uma composição capaz de fazer alguém se sentir tão mal a ponto de ficar completamente destruído?
Com um começo promissor, o leitor se vê envolvido novamente por uma narrativa vertiginosa, que utiliza os sentidos para criar uma atmosfera de terror, que leva o leitor a imaginar situações terríveis e inimagináveis através de algo desconhecido e totalmente surreal. O clima de suspense presente no livro chega a se tornar opressor, como se pouco a pouco nos víssemos sufocados e enclausurados por algo que nem conhecemos ainda, mas que já se mostrou altamente destrutivo. O autor se baseia em uma construção que vai além do sensorial, utilizando-se de imagens sem nexos, de lembranças confusas e conturbadas e de um pavor que ultrapassa as páginas para nos levar a temer ainda mais o desconhecido do que propriamente o grande mal inserido na história. A apreensão é companhia constante para aqueles que se veem perdidos no meio dessa narrativa que continua tão intensa e que mostra o porquê desse autor ser um grande nome da nova geração de terror. Em um ritmo intenso logo nos vemos cercados de possibilidades e uma insegurança do que virá a seguir. Seria possível sobreviver a algo que nem mesmo a ciência consegue entender? Essa e outras perguntas são algo que se infiltram em nossa mente sem permissão e nos levam a sofrer antecipadamente por algo que geralmente é utilizado para divertir.
Seguindo a sua característica narrativa impessoal, Philip acaba por se tornar um protagonista que atraí e instiga chamando a atenção do leitor, apesar de nada ter haver com sua personalidade. Todos os protagonistas da história acabam por se tornar rasos e sem profundidade, uma vez que nosso contato com eles acaba por se tornar escasso e insuficiente para que crie no leitor um sentimento de empatia e até menos uma preocupação pelos seus desconhecidos paradeiros. No entanto, o mistério que eles representam e que o tornam essenciais para a história é o que faz com que ainda sim haja um interesse acerca deles e de seu futuro. As cenas descritas de forma cinematográfica com a presença de frases rápidas e com grande impacto visual, também dificultam que possamos enxergar uma relação de amizade entre eles. Apesar de grande amigos, os Danes não conseguem transmitir com suas atitudes o carinho e companheirismo esperado de uma relação de amizade; outro ponto é que mesmo com os membros de sua banda desaparecidos, sua preocupação se mostra fraca e não tem muito espaço na história onde o medo domina a maioria das cenas.
O autor também tentou inovar ao inserir um romance em um thriller, cujo foco deveria ser as cenas que criam o terror em torno do qual gira a história. A forma como ele o desenvolveu de forma rápida e até de certo modo estranha, criou um aspecto bizarro como se ao invés de ser uma relação de amor, fosse algo quase como uma obsessão. As coincidências presentes na história são outro ponto que faz com que em alguns momentos se tenha a sensação de algo forçado e nem um pouco natural, o que ao invés de aproximar, acaba por afastar o leitor do enredo. Fica claro a intenção de Malerman de criar algo diferente e inusitado, que é o grande responsável por atrair o leitor para a trama e despertar o interesse em saber mais sobre ela; mas a forma com que foi construída, muitas vezes deixando pontas soltas que não acrescentam nada ao enredo faz com que se torne algo que destoa do esperado e passe a sensação de que poderia ser melhor mesmo que não esteja necessariamente ruim. Quanto aos personagens secundários, suas presenças quase não se destacam; enquanto alguns apresentam papeis essenciais no desenrolar da história outros parecem estar ali apenas para dar fluidez ou preencher um espaço que se encontrava em branco.
De uma forma nunca vista antes, o autor irá nos envolver em um terror que ultrapassa barreiras e segue por rumos nunca antes explorados, mas que são capazes de instigar e surpreender ate o mais difícil dos leitores assim como decepcionará a muitos que esperam um alto padrão do autor e não o encontraram nessa obra. Acredito que Malerman gosta de criar histórias que não se apresentem de forma única para todos que a leem, e é exatamente por isso que já é possível encontrar opiniões tão contrastantes acerca dessa nova obra. Amando ou odiando, essa é uma obra que em momento alguém passa em branco àqueles que se embrenham por suas paginas e se veem no meio de reviravoltas sem fim e perguntas para as quais só teremos respostas se nós mesmos as fizermos.
Em relação à diagramação eu não poderei falar muito em relação a edição física, por quê eu só tive contato com o e-book, mas já adianto que acho que ele se assemelha ao físico pelo trabalho realizado. Com uma fonte agradável, poucos erros de revisão e com capítulos com efeitos sonoros para remeter a maior questão do livro – o som – essa foi uma obra que me surpreendeu com uma diagramação que não utilizou de grandes recursos, mas que apesar de simples ainda permanece encantadora. A capa também é bem atrativa, apesar de não possuir muitos elementos e combina com o padrão criado para a primeira obra do autor, o que é ótimo para aqueles que assim como eu, gostam de colocar as obras do mesmo autor juntos e ainda ficar harmônico mesmo não se tratando de uma série.
Mesmo não sendo a grande obra que muitos esperariam encontrar, Piano Vermelho ainda é um livro que entrega o que é prometido em sua sinopse. No entanto, essa experiência não ocorrerá de forma fácil e nem será entregue de bandeja ao leitor; é necessário um esforço maior do que o normal para conseguir se sentir dentro de uma história que traz elementos que para nós não apresentam a força que lhe são atribuídos no decorrer de suas páginas. Quase como um divisor de aguas, essa é uma obra que não possibilita um meio termo ou um “achar”. Apesar de acreditar que há falhas em sua construção e em sua trama, assim como aconteceu em Caixa de Pássaros, é sim uma leitura que vale a pena e que se encaixa no que se propõe: fazer o leitor se sentir perdido e angustiado até que o livro termine e não haja nada o que fazer a não ser se conformar.
Em síntese, é uma obra que eu recomendo, mas com o adendo para não iniciar a leitura com altas expectativas e sim deixar que lentamente o autor consiga cativar um espaço dentro de si; seja porque você gostou, seja por que odiou sua condução. Novamente me deparei com uma história que não é fácil de comentar pelo grau de complexidade que apresenta; até mesmo na hora de falar sobre os pontos altos e baixos dela há uma espécie de conflito interno acontecendo. Impactante e desafiador é o melhor jeito que encontrei para definir essa trama que mexe com nossos sentidos de forma que jamais permitirá que voltemos a sermos os mesmos. Você deveria ler? Se você acredita que o gênero e o que viu aqui é capaz de te agradar, sim. Se tiver curiosidade de saber algo sobre o autor que tanto falam, também. Não há ditado mais certo do que cada livro se apresenta de determinada maneira depende de quem lê. Então leia e descubra se a melodia dessa obra é capaz de te fazer bem ou te levar a sentir coisas nunca antes experimentadas.
Um beijo