Resenha: Mistério em Chalk Hill – Susanne Goga

outubro 17 2017

Mistério em Chalk Hill se mostrou mais uma escolha acertada da Editora Jangada que vem para mostrar que é possível atribuir um bom mistério e suspensa a um romance de época. Trazendo vários elementos de forma a criar uma história completa e cheia de classe como apenas uma grande autora é capaz de fazer. Através de detalhes sutis, somos inseridos em sua trama repleta de dilemas intensos e reais que fazem com que acompanhamos uma Londres charmosa do século XIX. Com uma leveza impressionante, essa obra se mostra uma escolha acertada para aqueles que desejam não apenas mistério como toques sobrenaturais. Confiram mais sobre essa obra a seguir: 

  

Em 1890, depois de um escândalo que afetou sua reputação, Charlotte Pauly deixa Berlim e vai lecionar para a pequena Emily, em Chalk Hill, uma mansão vitoriana nos arredores de Londres. Charlotte logo percebe uma estranha atmosfera na antiga casa. A menina de 8 anos é sempre atormentada por pesadelos e visões fantasmagóricas da mãe, que se afogou no rio da propriedade em circunstâncias misteriosas. Quando Charlotte tenta saber a respeito da morte de Lady Ellen, o pai de Emily, Sir Andrew, reage com hostilidade. Com tudo envolto em um grande mistério, somente com a ajuda de Tom Ashdown, um jornalista londrino designado para investigar o caso, é que Charlotte poderá verificar o que há por trás dos fenômenos sobrenaturais que assolam a mansão e descobrir uma trágica verdade escondida nas paredes de Chalk Hill…

Informações técnicas:


Obra:   Mistério em Chalk Hill Autor(a):  Susanne Goga Páginas: 424 Ano de Lançamento: 2017 Editora: Jangada   Avaliação: 4/5 estrelas Onde comprar: Amazon

Não é nenhum crime não saber uma coisa, mas é tolo se acomodar na ignorância.

Charlotte Pauly é uma preceptora de origem alemã que resolve tentar recomeçar sua vida na Inglaterra, em uma pequena cidade que fica nos arredores de Londres. Conseguindo um bom emprego em Chalk Hill, apesar da forma abrupta com que deixou o país, ela rapidamente passa a exercer a mesma profissão que tinha em seu país de origem com a pequena Emily. Assumindo o risco, ela deixa todo o seu passado – inclusive sua arruinada reputação -, para trás e segue em direção à seu novo lugar. No entanto, se deparando com um pequeno imprevisto no caminho, ela acaba tendo que pernoitar em uma pequena pensão para viajantes onde acaba por se  deparar com um local que desperta sua curiosidade.

Uma sessão espírita” Charlotte já tinha ouvido falar a respeito, mas nunca tinha visto esse tipo de reunião. Em Berlim, não parecia ser algo bastante difundido, muito menos entre seus últimos patrões, que eram bem objetivos e materialistas. Fascinada e entretida, continuou olhando pela fenda, mas não conseguiu ver se o copo se moveu sobre a mesa.

Sem saber ao certo se ali era comum a prática de sessões espiritas e desconhecendo acerca de sua pratica, ela se vê sendo movida por sua curiosidade disposta a dar uma rápida olhada por lá. Deixando o que viu para lá, ela segue seu caminho sem comentar sobre o que presenciou.  Chegando finalmente em Chalk Hill, ela vem a conhecer Wilkins, responsável por leva-la ate seu novo lar. Deslumbrada com tudo que via pelo caminho, ela se vê conhecendo mais sobre o local enquanto ele se assegura de apresentar tudo para ela como um guia. Conhecendo aqueles com quem passaria a viver dali em diante, ela se vê extremamente surpresa ao ser colocada no quarto que a não muito tempo atrás pertencia a Lady Ellen Clayworth.

Quem é vulnerável acaba sendo atacado, é simples assim. As pessoas sentem isso.”

Tendo um encontro com a sua nova aluna melhor do que imaginava, ela acaba por descobrir em Emily uma criança extremamente educada, polida e alguém com quem rapidamente se viu tendo uma empatia. Mesmo tendo indícios de que as coisas não seriam tão simples como pensava, Charlotte logo acaba por se ver em meio a situações inusitadas. Diante de algumas situações um tanto quanto perturbadoras, Emily acaba por ter estranhas visões e pesados com sua mãe que faleceu. Preocupada, Miss Pauly não vê outra alternativa a não ser tentar ajuda-la, ainda que para isso precisasse descobrir mais sobre toda a história de morte de Lady Ellen – algo que não se mostrava nada fácil quando a ordem de Sir Andrew era para que nenhum de seus funcionários comentarem sobre a morte da esposa.

Os olhos de Emily eram mais azuis do que tudo o que já tinha visto. Os cílios longos e pretos pareciam os de uma boneca, e o rosto era pálido, salpicado de ligeiras sardas. Reconheceu de imediato uma criança incomum.

             Thomas Ashdown é um jornalista respeito além de se mostrar um excelente critico literário e teatral, motivo pelo qual ele acaba por se ver envolvido em uma exposição de um suposto médium. Extremamente crítico e sem acreditar no que vê, ele acaba por ter seu caminho se cruzando com a Society for Psychical Research – onde acaba por ser convidado a fazer parte dessa reclusa e até então desconhecida sociedade. Por esse motivo, quando as coisas começam a se complicar com Emily levando a todos a uma grande preocupação acerca da sanidade da menina, Sir Andrew não hesita em entrar em contato com a Society em busca de ajuda. Enviado para investigar a situação que estava ocorrendo por lá, Tom acaba por encontrar em Charlotte uma alidada para suas investigações acerca do que estava acontece por lá… Mas com tantos segredos e mistérios envolvidos, seria apenas um trauma sofrido pela jovem que a levaram a apresentar esse quadro ou algo mais – como uma entidade – realmente estaria a assombrar Chalk Hill?

Independentemente do que Sir Andrew fizesse e por mais estranhos que pudessem parecer seus esforços, Charlotte se manteria firme. Ficaria em Chalk Hill, ao lado de Emily, e descobriria o que havia acontecido naquela casa. 

                Mistério em Chalk Hill é uma obra que se mostra desde o começa extremamente rica e envolvente, com um suspense sempre presente, essa é uma obra capaz de agradar por sua inteligência e seu parecer histórico capaz de dar vida ao passado. Trazendo menções acerca de grandes obras e escritores ingleses, ela se mostra uma narrativa muito bem elaborada, apesar de estar longe de ser aquela obra que arranca o fôlego e provoca palpitações em seus leitores. Conduzindo através de uma bela Londres vitoriana, Susanne Goga é capaz de demonstrar seu potencial em uma narrativa fluida que não se mostra enfadonha e que ensina ao mesmo tempo em que se desenvolve.

Charlotte Paulyé uma personagem que logo no inicio cativa o leitor com seu jeito forte e determinado de ser, além de sua força de vontade e coragem em deixar tudo para trás para começar novamente em um lugar completamente novo e desconhecido. Extremamente perceptiva, ela é alguém que ganha destaque na narrativa com sua personalidade forte, sua ausência de papas na língua e que não se deixa abater. Falando o que pensa, ela não hesita em se embrenhar pelos mistérios que envolvem a residência e que constantemente vem atormentando a pequena Emily. Simples, mas encantadora, ela é apenas um dos personagens que rapidamente cativam o coração do leitor que se vê encantado com seu jeito e torcendo por sua felicidade.

                Já Tom Ashdown, é alguém que no inicio se mostrava extremamente fechado e cético, mas que tem suas atitudes justificadas pela dor que carrega em si com a morte da sua esposa. Se envolvendo na Society for Psychical (que existe até hoje), ele acaba por se permitir se envolver em algo que vai além do peso que carrega em si enquanto tenta entender o que está acontecendo ali naquela mansão aparentemente normal.  Ganhando destaque, ele é alguém que galga seu caminho um pouco mais lentamente para o coração do leitor, mas que se mostra impossível de ser odiado. Torcendo para que ele possa encontrar seu final feliz, o vemos descobrindo novos sentimentos enquanto trabalha no que foi enviado. E falando em trabalho, o que falar de Emily a jovem que se vê atormentada pela presença da mãe que faleceu? Se mostrando extremamente inteligente e que cativa o leitor desde o primeiro momento, ela é uma criança carismática que dá o toque certo a obra além de roubar totalmente a cena nos momentos em que aparece.

Separando de forma ideal as narrações realizadas entre os personagens principais, somos levados a aprender um pouco mais sobre cada um e sobre os demônios que carregam em seu passado, sem que isso se torne chato ou confuso para a leitura. Com histórias fortes separadas, mas que se mostram extremamente melhores juntos e uma química muito boa somos levados a acompanha-los enquanto eles tentam desvendar o que pode estar por trás do que acontece nessa pequena cidade chamada Chalk Hill. Mesmo longe de se mostrar uma obra original e surpreendente, a autora soube desenvolver magistralmente seus personagens e seu enredo de forma a nos fazer gostar do primeiro e nos envolver profundamente no segundo.  

Com uma edição maravilhosa, essa é uma obra que atraí com sua capa que se mostra totalmente condizente com a narrativa e passa o ar de mistério e suspense que a história apresenta. Com paginas amareladas e uma fonte do tamanho ideal, além de um ótimo espaçamento. Com uma revisão muito bem feita, erros dificilmente foram encontrados e os presentes nele em nada atrapalharam a leitura que mantém um ritmo constante e conciso por todas as páginas. E o que falar das fotos que são encontradas ao final da edição e que mostram a Londres citada durante a obra? De forma impecável, a Editora Jangada se mostrou mais uma vez cheia de talentos quando o assunto é publicações!

Mistério em Chalk Hill é uma obra que se mostra extremamente bem pensada e desenvolvida de forma a atrair com sua premissa e envolver com uma escrita extremamente prazerosa e envolvente como só Susanne Goga é capaz de fazer. Nos levando por caminhos que os mais atentos facilmente conseguem ver para onde irão seguir; se mostrando um suspense extremamente bem feito, essa é uma obra que traz em sua trama um mistério repleto de sons, lugares e pessoas inesperadas…

                Confesso que iniciei a leitura sem muitas expectativas acerca do que poderia encontrar e foi com uma grata surpresa que me vi envolvida em um enredo que se passa em outra época, mas que em nenhum momento se utilizou de palavras difíceis ou elaboradas para dar o toque esse toque de época. Com uma distribuição bem feita, somos levados ao longo de suas 424 páginas em uma trama intensa, repleta de suspense e que nos surpreende a cada minuto. Com plot twists na medida certa, essa é uma obra para quem gosta de histórias bem escritas, com personagens bem construídos e altamente envolventes, além de se mostrar um bom enredo de época, ainda que fugindo dos padrões geralmente encontrados na literatura.  Indicado para todos que gostam desse tipo de narrativa e história, Chalk Hill se mostra a escolha acertada… ou não. Mas ai só lendo para saber!

Um beijo