Resenha: Uma Proposta & Nada Mais – Mary Balogh

abril 03 2018

Uma Proposta & Nada Mais é um daqueles livros que promete ser leve, divertido, romântico e cumpre o que se propõe a fazer. No entanto, para os que buscam algo mais intenso, regado de emoção, com reviravoltas e aquele amor de tirar o folego, essa pode não ser a obra recomendada. Muito bem escrita por Mary Balogh, essa autora chega com essa nova proposta com a série O Clube dos Sobreviventes pela Editora Arqueiro trazendo uma proposta bem diferente da série anteriormente dela Os Bedwyns também lançada pela editora. Rápida e fluida para leitura, essa é aquela obra que você busca para ler em momentos em que está a procura de leituras despretensiosas e regadas a um romance bonito e maduro de se ver – mas que nem por isso será fácil. Confiram mais detalhes na resenha a seguir:

Primeiro livro da série Clube dos Sobreviventes, Uma Proposta e Nada Mais é uma história intensa e cativante sobre segundas chances e sobre a perseverança do amor.

Após ter tido sua cota de sofrimentos na vida, a jovem viúva Gwendoline, lady Muir, estava mais que satisfeita com sua rotina tranquila, e sempre resistiu a se casar novamente. Agora, porém, passou a se sentir solitária e inquieta, e considera a ideia de arranjar um marido calmo, refinado e que não espere muito dela.

Ao conhecer Hugo Emes, o lorde Trentham, logo vê que ele não é nada disso. Grosseirão e carrancudo, Hugo é um cavalheiro apenas no nome: ganhou seu título em reconhecimento a feitos na guerra. Após a morte do pai, um rico negociante, ele se vê responsável pelo bem-estar da madrasta e da meia-irmã, e decide arranjar uma esposa para tornar essa nova fase menos penosa.

Hugo a princípio não quer cortejar Gwen, pois a julga uma típica aristocrata mimada. Mas logo se torna incapaz de resistir a seu jeito inocente e sincero, sua risada contagiante, seu rosto adorável. Ela, por sua vez, começa a experimentar com ele sensações que jamais imaginava sentir novamente. E a cada beijo e cada carícia, Hugo a conquista mais – com seu desejo, seu amor e a promessa de fazê-la feliz para sempre.

Informações técnicas:

Obra:  Uma Proposta e Nada Mais Autor(a):  Mary Balogh Páginas: 272 Ano de Lançamento: 2018 Editora: Arqueiro  Avaliação: 4/5 estrelas Onde comprar: Amazon Saraiva

Sofremos neste lugar. Nós nos curamos neste lugar. Desnudamos nossas almas uns para os outros. […] Uma vez por ano, porém, voltamos para recuperar nossa integridade ou para nos fortalecermos com a ilusão de que estamos inteiros.

                Hugo Homes é o único filho de um rico comerciante que tinha a esperança e desejo de que seguisse seu caminho comando seu legado após sua morte, principalmente quando após a morte de sua mãe quando o menino vivia a sombra dele. No entanto, contrariando as expectativas de todos, Hugo surpreende a família ao pedir a seu pai que lhe compre um posto na infantaria inglesa – visto que para fazer parte do exercito era necessário a compra de um lugar; de certa forma decepcionado, o pai concede o desejo do filho, mas comprando apenas um dos lugares mais singelos e afirmando que se ele desejasse subir de posição deveria ir atrás por si só. Determinado, Homes segue trilhando uma árdua trajetória dentro da infantaria, galgando postos cada vez mais altos e realizando feitos gloriosos no exercito que acabam por lhe render o título de Lorde Trentham – concedido pelo próprio rei pelos serviços prestados ao exercito, principalmente diante de uma vitória que todos achavam ser impossível por se tratar de uma missão suicida.

                Contudo, longe de ser grato pelo título e até mesmo de se envaidecer com o papel de herói atribuído a ele devido aos seus feitos, Trentan se vê em uma situação difícil… Com cicatrizes profundas, ele se vê sendo levado a passar um tempo ao lado daqueles que virão a ser os melhores amigos de sua vida… Se mostrando um grupo completamente heterogênio, poucos acreditariam que entre cinco ex-oficiais, uma viúva e um duque (o anfitrião) poderia vir a surgir uma amizade. No entanto, contrariando todos mais uma vez, é exatamente isso que acontece; unindo suas dores, o duque vê na chance de ajudar aqueles que assim como ele perderam algo importante na guerra uma saída para ter um pouco de alegria. Com laços fortes criados a partir de muitas confissões, essa amizade é o que os leva a se reunirem todos os anos por algumas semanas na Cornualha de forma a rever uns aos outros e restaurar o equilíbrio de cada um pelas feridas que nem o tempo é capaz de apagar.

A vida era um pouco como caminhas numa corda bamba fina e desfiando, sobre um abismo profundo com rochas pontiagudas e alguns animais selvagens esperando no fosso. Era perigoso, e empolgante.

                Tendo faltado ao último encontro, por motivos que não condiz dizer aqui, Hugo se vê precisando desse tempo ao lado dos amigos, principalmente agora que o tempo em que podia permanecer isolado sob o pretexto de luto pela morte de seu pai acabou. Com grandes responsabilidades em um negócio prospero e que o fazem ser um dos homens mais ricos por ali, ele se vê diante do dilema de pensar no futuro de sua meia-irmã – por quem tem um carinho enorme –  e em propiciar uma boa proposta de casamento para ela; o que o leva a ter a plena certeza de que precisa se casar e rápido com alguém de sua classe, visto que repudia a parte nobre da sociedade , para que ela possa auxiliar sua irmã nessas apresentações e em uma escolha adequada.  A única dificuldade é saber onde encontrar essa mulher e como fazê-la se casar com ele…

Era bela, elegante, bem-vestida, segura de si e encantadora. Tudo o que uma dama deveria ser. E ela o atraía, o que o incomodava.

Lady Muir é uma jovem que se viu ficando viúva muito cedo com a morte prematura de seu marido; tendo vivido bons momentos, ainda que muitos outros tenham sido conturbados, Gwendoline se considerava uma pessoa feliz e ainda tenta viver e manter sempre um sorriso no rosto  mesmo após tudo que aconteceu. Tendo uma família amorosa que não hesitou nem por um momento em acolhe-la, ela não sente falta de ter alguém ao seu lado e está muito bem sozinha… ou pelo menos estava até se ver diante de uma intensa sensação de vazio imensurável…

Mas e a solidão? Por quanto tempo ficaria à espreita, esperando o momento certo para o ataque? Sua vida era mesmo tão vazia quanto parecia naquele momento?

A visita a Cornualha deveria ser temporária e agradável, apenas para prestar apoio a uma velha conhecida que havia ficado viúva recentemente; no entanto, conforme passava os dias ao lado da “amiga” ela já não tinha mais tanta certeza assim… Após uma briga, Gwen sai da casa onde estava passando uns dias e resolve passear por ali de forma a esfriar a cabeça, no entanto, o que ela não imaginava era acabar se embrenhando pelas praias do duque que foi aconselhada a permanecer longe e muito menos ter a ideia estupida de subir por um caminho que oferecia tudo menos segurança para qualquer um e que para alguém com um pé machucado como ela, era a perfeita receita para o desastre.

— A senhora não é, de forma alguma, o tipo de mulher que busco para ser minha esposa – disse ele. — E faço parte de um universo muito diferente do marido que espera encontrar. Mesmo assim, sinto um poderoso desejo de beijá-la.

                Certa de que estava em um grande problema, Gwen se pega imaginando como sair dali quando colocar o pé no chão se mostrava impossível; com mil alternativas passando pela sua mente, a única coisa que ela não imaginava era ter seu caminho cruzado com Lorde Trentam, quem se mostra sua única opção…. Completamente opostos, ambos sabem que qualquer coisa acontecer entre eles era impossível, afinal, desde o primeiro momento fica claro para ambos que enquanto ela é uma completa dama da sociedade, ele é um soldado que não liga para as regras da sociedade e nem tem papas na língua. No entanto, mesmo sabendo disso, Gwen e Hugo não conseguem negar a atração que também surgiu entre eles… Forçados a conviver por um tempo enquanto ela se recupera, ambos irão descobrir que resistir pode não ser nada fácil, mas se entregar pode ser mais difícil ainda… Seria possível mundos tão diferentes encontrarem uma forma de se unir? Em uma batalha entre a razão e o coração tudo pode acontecer, resta saber se ambos estão prontos para enfrentar essa batalha!

Ou se enfrentava o desafio ou se fugia dele. Ou se era um herói ou um covarde. Ou se era um sábio ou um tolo. Um homem cauteloso ou imprudente. Haveria resposta para alguma coisa nessa vida?

Uma Proposta & Nada Mais é um daqueles livros que te fazem ficar refletindo acerca de sua verdadeira opinião sobre ele. Não é que seja uma obra ruim, no entanto, sua história por se tratar de personagens mais madurados (ou assim deveria ser) devido à idade leva o leitor a ficar diante de dúvidas acerca do que realmente sentir ao ler. Longe de ser uma obra que retrata uma bela história de amor, essa é uma obra que apresenta feridas profundas e como elas podem transformar vidas; assim como o preconceito pode impedir que se viva momentos repletos do derradeiro sentimento jamais imaginado ser sentido. Seguindo um ritmo mais lento, regado a muitas cenas onde pouca coisa acontece de diferente, essa é uma daquelas obras que muitos podem associar como enfadonhas, mas que apenas apresenta um lado mais calma junto a uma estória cujo crescimento acontece de forma branda e linear. Definitivamente mostrando um lado seu até então desconhecido, Mary Balogh cria uma história madura feita para ser visto com olhos mais realistas, ainda que regado por um amor que desconhece limites de idade e que a torna uma boa obra do gênero.

Hugo Homes é um protagonista diferente dos que geralmente encontramos por ai visto a sua falta de propensão a gostar de circular entre os nobres, além do inexistente desejo de fazer parte dali – ainda que com as suas bravuras ele se veja sendo considerado como tal – e sua falta de modos capaz de chocar até mesmo o mais singelo soldado. Longe de ser considerado um cavalheiro, ele é um rapaz que se viu por herdar uma pequena fortuna de seu pai, em meio a responsabilidades que não desejou e carregado de traumas que apenas uma vida de guerras é capaz de causar. Complexo, ele é um personagem extremamente fechado e até, de certa maneira, difícil de que o leitor se aproxime; no entanto, seu jeito extremamente real cria um clima intenso, extremamente crível e que emociona até mesmo o mais forte dos homens. Sem tornar de forma alguma ele como alguém superficial, Mary Balogh, cria um protagonista forte, determinado e ao mesmo tempo apresentando um lado sensível, Hugo faz com que seus medos acabam por fazer com que queiramos descobrir mais acerca de si e torcer para que ele consiga deixar as amarras que ele mesmo se impôs para trás.

Por outro lado, Gwen, é uma protagonista que também se mostra diferente de outras personagens do gênero por apresentar um lado que ao mesmo tempo é sensível, sonhadora e romântica, tem em si muito forte uma personalidade regada a uma racionalidade forte onde ela não se deixa por levar por delírios juvenis e nem hesita em enfrentar quem tenta fazer com que ela se sinta inferior ou menos capaz por ser mulher. Sempre certa do que deseja, e sempre tento pensado muito antes de qualquer atitude impensada, ela é alguém que não se arrepende do que decide fazer e que vai até o fim no que se propõe. Cheia de personalidade, ela é alguém que não hesita e muito menos deixa a vida passar diante de si sem ver, cheia de vida ela é uma daquelas mulheres que te inspiram e cativam aos poucos com seu jeito de ser; mostrando-se incapaz de não cativar o leitor, ainda que não venha a se tornar uma personagem favorita. Sem negar a atração que um sente pelo outro, ambos criam uma estória verossímil onde seu desenrolar é algo difícil de ser previsto diante as inúmeras possiblidades existentes. Simples, mas real, em nenhum momento Mary leva o leitor a se ressentir de seus personagens, mas nos emociona através de pequenos gestos e palavras doces!

Com uma construção linear e que se constrói aos poucos, o que por diversas vezes pode vir acabar por criar um sentimento de enfado, essa é uma obra que não se vê determinada a atropelar as coisas tentando se aproximar o máximo da vida real, onde as coisas acontecem de forma lenta e são construídas um dia de cada vez. Mantendo o padrão de escrita leve e fluido, essa é uma obra que não se mostra difícil de ter suas páginas lidas, mas ao mesmo tempo não desperta aquele interesse e euforia de devorar cada página o mais rápido possível. Feito para se ler com calma, esse é um romance de época que se mostra mais maduro que muitos outros por ai e que por isso leva a quem o lê a acompanha-lo de forma devagar e constante. Capaz de propiciar momentos de prazer e um acalentar ao coração, Gwen e Hugo são aqueles protagonistas que parecem impossíveis de acabarem juntos, mas que desejamos com toda a força que aconteça. Se mostrando muito bem pensada em sua construção, esse livro não se perde em seus caminhos e nem se torna confuso; seguindo sua proposta desde o inicio, essa é aquela obra que promete um romance repleto de profundidade e o entrega sem hesitar.

E falando em coisas bem pensadas… A Editora Arqueiro mais uma vez vem mostrando seu talento ao criar uma capa que realmente condiz com sua história e proporcionando a seus parceiros um brinde de deixar qualquer um babando. Mantendo o padrão das folhas amareladas de qualidade, fonte de tamanho adequado e capítulos bem divididos, essa é uma obra que não peca em questão de diagramação. No entanto, pela primeira vez depois de muito tempo eu me deparei com uma revisão que poderia ter sido feita de forma melhor, visto que em vários momentos me deparei com erros gramaticais em sua obra. Mesmo assim, isso não interferiu e nem tirou o brilho da obra, apenas me deixou surpresa visto que esse não é um padrão da editora. De qualquer forma, essa é uma daquelas obras que promete ser encantadora e traz um layout extremamente adequado a sua proposta e cujos próximos volumes também em nada deixam a desejar. Simples, mas muito bem trabalhada, essa é uma obra que acalenta nossos corações e enchem nossos olhos!


Uma Proposta & Nada Mais é aquela obra que mostra mais uma vez que a autora tem em criar estórias tão diferentes, mas encantadoras dentro de si. No entanto, ainda que não tenha vindo a se tornar uma de suas obras que mais me encantou, não posso negar que é um enredo muito mais real e intenso que qualquer outro que eu já tenha lido de sua autoria e que não se torna enfadonho e nem chato em nenhum momento, visto que desejamos descobrir o que poderá vir a acontecer a seguir e qual o resultado que isso trará. Muito real esse é aquele tipo de narrativa que te toca profundamente e que te emociona na mesma medida em que te faz suspirar e torcer com toda a força do seu coração. Muito bem escrito, Mary Balogh é um talento inegável se tratando de romances de época e veio com sua nova série para mostrar que existem muitas maneiras de escrever boas estórias.

                Sensível, intensa, rápido e com uma pegada mais racional, essa é uma daquelas obras que se mostra um começo promissor para uma série cujas promessas se mostram altas para seus próximos volumes. Ainda que não seja aquela obra que se torna a mais emocionante ou favorita da vida, Mary não decepciona aqueles que são encantados com sua escrita e sua forma de fazer com que palavras reflitam de forma totalmente sincera e profundamente os sentimentos. Se eu recomendo? Sim, é uma obra que todos deveriam ler para aprender a entender que nem sempre as glórias fazem valer a pena os momentos de escuridão e tensão vividos por aqueles que não só vão ativamente para a guerra, como também para quem fica. Leiam, se permitam e sintam, porque se tem uma coisa que esse livro entrega sem nem fazer esforço é uma história repleta de estórias e emoção!

Um beijo