Simplicidade é a característica perfeita para descrever Hoje Eu Quero Voltar Sozinho e com isso o o primeiro longa-metragem do diretor e roteirista Daniel Ribeiro chegou tão longe.O filme é uma ampliação do curta-metragem Eu Não Quero Voltar Sozinho e narra a história de Leo, um menino cego muito protegido pelos pais e muito próximo de Giovana – sua única amiga – até que um novo menino chega na escola e desperta em Leo coisas até então impensáveis. O filme foi escolhido pelo Ministério da Cultura para representar o Brasil na categoria de Melhor Filme Estrangeiro na edição de 2015 do Oscar.
Tudo funciona no roteiro e tudo acontece com muita naturalidade apesar das limitações do personagem principal. A chegada de Gabriel causa uma abalo sísmico na vida de Leo que esquece da deficiência do amigo e comete gafes como ao perguntá-lo se já assistiu certo vídeo na internet ou ao convidá-lo para ir ao cinema. A presença do novo amigo traz novas experiências como a de sair escondido de casa no meio da noite para “ver” um eclipse ou frequentar uma festa dos amigos da escola. Acompanhamos o desenvolvimento de Leo com sua luta diária em superar suas limitações, a super proteção dos pais e a crise da amiga em relação a nova amizade.
A direção de Ribeiro é simples e direta em conjunto com a parte técnica do filme. A fotografia é bastante homogênea, é como se estivéssemos vendo um filme caseiro devido a sua esfera cotidiana. A calma e eclética trilha sonora ajuda a dar forma ao longa e elenco não fica de fora. Os atores apresentam atuações coesas e intensas, destaque para Ghilherme Lobo (intérprete de Leo), ele realmente convence com deficiente visual e sua química com Fábio Audi (no papel de Gabriel) é extremamente forte, a atriz Tess Amorim fecha o trio, a sintonia deles ajudou bastante no resultado final da obra.
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho foi aclamado pela crítica recebendo 91% de aprovação no Rotten Tomatos. Foi exibido no Festival de Berlim e recebeu o prêmio Fipresci concedido pela Federação Internacional de Críticos de Cinema, o filme recebeu mais de 50 prêmios no mundo todo e foi exibido em vários festivais. Em 2015, concorreu na categoria de Melhor Lançamento Limitado do GLAAD Awards, o principal prêmio atribuído a comunidade LGBT.
O filme retrata de forma bem leve a homossexualidade, com um roteiro bem linear e sem grande reviravoltas. O objetivo do longa é retratar o cotidiano de uma adolescente e sua relação com as pessoas ao seu redor, o filme não tem o objetivo de ser militante, ele só quer contar uma história de amor e faz isso com maestria e pureza. Hoje Eu Quero Voltar Sozinho é acima de tudo uma história que mostra quantas variedades de amor podem existir e que esse é, acima de tudo, para ser sentido.
Até a próxima,
Meirelles